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Publicado em 21/07/2016 às 11:53 - Autor:

Escândalo de doping do atletismo russo: perguntas e respostas

O mundo do esporte foi abalado no dia 9 de novembro pela divulgação de um relatório de 323 páginas. Uma investigação de uma comissão independente da Agência Mundial Antidoping (Wada) apontou uma sistema de dopagem institucionalizado na Rússia, envolvendo atletas, técnicos, oficiais de controle de doping, dirigentes da federação do país, integrantes do governo russo e até membros da Federação Internacional de Atletismo (IAAF). A credibilidade do esporte foi colocada em xeque, assim como a participação dos russos das provas de atletismo das Olimpíadas de 2016. Veja a seguir as perguntas e respostas sobre o que está sendo considerado o maior escândalo de doping da história do esporte.

Como começou a investigação?
O pontapé para o sistema de dopagem russo ser desmascarado foi dado pela atleta Yuliya Rusanova e por seu marido, Vitaly Stepanov, oficial da agência antidoping russa (RUSADA). Especialista nos 800m rasos, Yuliya foi suspensa por dois anos no começo de 2013 depois de seu passaporte biológico apontar o uso de substâncias proibidas. No ano seguinte, ela e seu marido entraram em contato com o repórter alemão Hajo Seppelt para revelar o sistema russo de dopagem. Seppelt convenceu outros atletas e técnicos russos a se pronunciarem e produziu o documentário “Top-Secret Doping”, publicado pela TV alemã ARD em dezembro de 2014. Antes de serem divulgadas, as descobertas de Seppelt foram apresentadas à Agência Mundial Antidoping (Wada), que iniciou a investigação.

Como funcionava o sistema de dopagem do atletismo da Rússia?
O doping na Rússia era institucionalizado, partia de dirigentes e técnicos. Os atletas raramente tinham voz na decisão sobre utilizar ou não o doping. Apesar de as substâncias dopantes serem proibidas na Rússia, agentes da RUSADA forneciam as drogas a atletas. A Federação Russa de Atletismo (ARAF) garantia que os exames antidopings não desmascarassem o sistema pagando propina ao laboratório de Moscou, chefiado por Grigory Rodchenkov. Propinas também eram pagas à Federação Internacional de Atletismo (IAAF), então presidida pelo senegalês Lamine Diack, para que os russos não fossem flagrados em competições internacionais.

Quem foi responsável pela investigação?
Depois de receber do jornalista alemão Hajo Seppelt a apuração do documentário “Top-Secret Doping”, a Wada formou uma comissão independente para investigar a acusação. O órgão de controle antidopagem, que é formado por representantes do esporte e por autoridades governamentais, colocou como chefe da investigação o advogado canadense Richard Pound, ex-presidente da Wada.  Richard McLaren, professor de Direito e árbitro de longa data da Corte Arbitral do Esporte (CAS), e Gunter Younger, chefe do departamento de cibercrimes da Baviera, completaram o grupo de investigação que elaborou um relatório de 323 páginas, divulgado no dia 9 de novembro.

O que concluiu o relatório da comissão independente da Wada?
A investigação da comissão independente da Wada apontou a existência do sistema de dopagem que envolvia atletas, técnicos, dirigentes da ARAF, oficiais da RUSADA, integrantes do Ministério do Esporte da Rússia, membros da Polícia Secreta do país e representantes da IAAF. O relatório confirmou que atletas russos se beneficiam há anos de um programa sistemático de doping sustentado por propinas. Cerca de 1.417 amostras de controle de doping de vários esportes foram destruídas em dezembro de 2014, segundo o relatório

Quais são os atletas envolvidos?
O relatório da comissão independente da Wada pediu o banimento de cinco técnicos e cinco atletas russos: Mariya Savinova (campeã olímpica dos 800m rasos), Ekaterina Poistogova (bronze nos 800m rasos dos Jogos de Londres 2012), Anastasiya Bazdyreva, Kristina Ugarova e Tatjana Myazina. Além das cinco, mais de 30 russos do atletismo foram flagrados suspensos por doping neste ciclo olímpico. Neta lista estão Sergey Kirdyapkin (campeão olímpico da marcha atlética de 20km), Tatyana Cernova (campeã mundial do heptatlo 2011), Yuliya Zaripova (campeã olímpica dos 3.000m com obstáculos) e Liliya Shobukova (tricampeã da maratona de Chicago).

Que medidas o relatório sugeriu?
Por ter poder apenas de investigar, a comissão independente da Wada apenas pôde sugerir medidas a serem tomadas pelos envolvidos no esquema de doping e pela Wada. A comissão sugeriu:
– Banir os atletas e técnicos citados no relatório;
– Demissão do chefe do laboratório de Moscou, Grigory Rodchenkov;
– Desacreditar o laboratório de Moscou;
– Suspensão do código antidoping da RUSADA;
– Investigação interna de funcionários, treinadores e atletas identificados no relatório, com o prazo de seis meses para comunicar resultados para a Wada;
– Demissão do chefe da comissão médica da ARAF, Sergei Nikolaevich Portugalov;
– Garantias financeiras do Ministério do Esporte da Rússia para a RUSADA e um eventual laboratório credenciado executem um programa antidoping eficaz;
– O Ministério do Esporte deve remover permanentemente o Dr. Sergey Nikolaevich Portugalo de sua posição no Instituto de Cultura Física e Esportes e Pesquisas da Rússia;
– Garantias do Ministério do Esporte de que as amostras coletadas na Rússia sejam rapidamente enviadas a outro laboratório credenciado pela Wada;
– Exclusão da Rússia de todos os grupos de trabalho da Wada até ARAF e RUSADA refazerem seus códigos nos termos determinados;
– Banir os médicos Grigory Rodchenkov, Sergei Portugalov, Viktor Mikhailovich e os treinadores Chegin, Vladimir Kazarin, Aleksey Melnikov e Valdimir Mokhnev do quadro da Wada; e
– Assistência e proteção aos que colaborarem com denúncias por parte da Wada.

Até que as medidas sejam tomadas, a comissão independente sugeriu à IAAF a exclusão da Rússia de todas as competições internacionais de atletismo, incluindo os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. A comissão também sugeriu medidas a serem tomadas pela IAAF mas não as divulgou para não atrapalhar outras investigações de casos de doping.

Como os russos reagiram ao relatório?
A primeira reação dos governantes e dirigentes russos foi de desqualificar o relatório, alegando falta de evidências concretas da investigação. Atletas não mencionados em nenhuma acusação, como Yelena Isinbayeva (duas vezes campeã olímpica e três vezes campeã mundial do salto com vara), alegaram estar limpos e, por isso, consideraram injusta a sugestão de banir toda a delegação russa. O presidente Vladimir Putin demonstrou preocupação em preservar os atletas limpos do país e deu instruções ao Ministro do Esporte Vitaly Mutko para que colabore com as entidades internacionais responsáveis pelas investigações de doping.

Quais as punições até agora?
A principal medida tomada foi a suspensão de todos os russos de todas as competições internacionais de atletismo, sancionada pelo conselho da IAAF, em reunião emergencial no dia 13 de novembro. Um maratonista russo chegou a vencer uma prova no Japão, no dia 15 de novembro, mas foi desclassificado.

A Wada suspendeu o laboratório de Moscou, e o chefe do laboratório, Grigory Rodchenkov, pediu demissão. Ex-presidente da IAAF, o senegalês Lamine Diack chegou a ser detido para prestar depoimentos, responde em liberdade, mas foi suspenso do posto de membro honorário do Comitê Olímpico Internacional (COI). Ele renunciou ao cargo no dia 11 de novembro.

O que a Rússia precisa fazer para não ficar fora das Olimpíadas?
Para recuperar a adesão à IAAF, a nova federação teria de cumprir uma lista de critérios. Uma equipe de inspeção independente liderada pelo presidente Rune Andersen, um perito internacional antidoping independente (norueguês) e três membros do Conselho da IAAF que serão nomeados nos próximos dias.

Como o COI reagiu até aqui?
O COI adotou o discurso de proteger os atletas limpos da Rússia e de confiar nas novas lideranças da IAAF para conduzir a crise no atletismo – a federação é presidida pelo britânico Sebastian Coe. O COI ainda pediu à IAAF para inciar o quanto antes todos os procedimentos disciplinares contra todos os atletas, treinadores e funcionários que tenham participado de Jogos Olímpicos e são acusados de doping no relatório da comissão independente para assim realocar medalhas. O COI também ressaltou que supervisionou os exames antidopings das Olimpíadas de Inverno de 2014, realizadas em Sochi, na Rússia. Ainda assim, vai testar as amostras novamente.

Outros países são mencionados no relatório?
A investigação divulgada pela Wada teve como objeto de estudo o atletismo da Rússia. O órgão internacional, porém, tem outras investigações em curso e não pode detalhá-las. No entanto, Richard Pound, chefe da comissão independente do caso russo, afirmou que o uso do doping no Quênia é evidente.

Fonte: Globo Rsporte.

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